12/06/2010 - 17h58

Rivais na Copa, gregos e coreanos são um clássico só no Bom Retiro

Flavia Perin
Em São Paulo
  • <strong>EM CAMPO, COREIA PASSEIA</strong> A Coreia do Sul usou a sua principal característica para vencer a Grécia: a velocidade. Com ataques e contra-ataques rápidos, os sul-coreanos passearam sobre a frágil defesa grega e não tiveram dificuldade para vencer o confronto em Port Elizabeth por 2 a 0. Lee Jung-Soo (o jogador da foto acima) e Park Jin-Sung marcaram os gols da Coreia

    EM CAMPO, COREIA PASSEIA A Coreia do Sul usou a sua principal característica para vencer a Grécia: a velocidade. Com ataques e contra-ataques rápidos, os sul-coreanos passearam sobre a frágil defesa grega e não tiveram dificuldade para vencer o confronto em Port Elizabeth por 2 a 0. Lee Jung-Soo (o jogador da foto acima) e Park Jin-Sung marcaram os gols da Coreia

Muito barulho, mas nada de vuvuzelas. O som que embalou os sul-coreanos reunidos na rua Sólon, no bairro paulistano do Bom Retiro, vinha do jáng gu, tambor típico tocado ao vivo, e de gravações de cantos, repetidas continuamente durante os 90 minutos de bola em campo. O refrão logo se tornaria claro, rápido como o primeiro gol: “De rán min guk” (“Povo coreano, nação grandiosa”).

Era o que também sugeriam as camisetas vermelhas com os dizeres “The shouts of reds – United Korea” (“Os gritos dos vermelhos – Coreia unida”) que tomavam a plateia diante de um telão no colégio Polilogos, sede da Associação Brasileira de Educação Coreana. Bandanas nas cabeças, bexigas vermelhas e decoração verde, amarela, azul e vermelha completavam o visual.

Uma espécie de animador de auditório coreografava passos com um quê de artes marciais à frente dos quase 400 espectadores. Crianças sentadas no meio do salão e adultos de pé vibravam por qualquer chance de gol sul-coreano ou bola perdida pela Grécia.

Para começar a manhã com a mesma disposição de seus heróis do futebol, bolinhos de arroz doce cortados em cubos e degustados com hashis. O intervalo do jogo foi ocupado por uma graciosa apresentação típica de meninas que não passavam dos 10 anos de idade, trajadas com vestidos de cores vivas – predominantemente rosa-choque e azul anil. Os garotos aproveitaram para trocar figurinhas da Copa e jogar bafo.

UM BAIRRO, DUAS TORCIDAS

  • Flavia Perin/UOL Esporte

    Os sul-coreanos se reuniram para ver a estreia na Copa

  • Flavia Perin/UOL Esporte

    Mal acaba o jogo e a comunidade já inicia a limpeza do salão

  • Flavia Perin/UOL Esporte

    Thrassyvolos, o 'senhor Jorge', entusiasta do Brasil e de Dunga

Na saída, instalado bem à porta, um ambulante vendia bonés vermelhos da seleção da Coreia do Sul por R$ 10. Em poucos minutos, o salão havia sido desocupado e estava limpo, sem rastros de folia, apenas o telão já desligado e a decoração no teto. Mais alguns minutos e a corrente de torcedores exaltados já tinha deixado o local. Desapareceu pela rua, que sobrou silenciosa.

Ficariam na escola alguns funcionários e os alunos mais novos, que exibiam poses de euforia patriota diante de cartazes e bandeiras. A fotógrafa era a professora de língua coreana da Polilogos, Vanessa Lee (nome original Sang Hee Lee Kim), nascida em Seul e criada no Brasil, onde mora há cerca de 30 anos. Ela explica o sumiço instantâneo: “Quase todos têm comércio, por isso já voltaram ao trabalho.”

Na rua da Graça, simpatia da Grécia

Perto dali, na rua da Graça, momentos após o final da partida, o tradicional restaurante grego Acrópolis, comandado por Thrassyvolos Georgios Petrakis – 94 anos de idade, 51 vividos no Brasil –, estava vazio, apesar da proximidade da hora do almoço.

Nem o garçom Ivanildo Belizardo da Silva, 28 anos de casa, conseguiu prever em que ânimo estariam os gregos. “Eu sei que torci para a Coreia do Sul, que tem mais time”, revelou.

Seria natural, pode-se pensar, que os gregos não quisessem muito papo depois da derrota. Engano. Ao menos pelo dono do Acrópoles, também chamado de “senhor Jorge”, que logo chegou com a habitual simpatia, sorriso estampado, animação digna de sul-coreano.

“O senhor não está chateado com o resultado?” “Eu não!”, ele responde de imediato. “Já não tinha muita esperança na Grécia... Aliás, às vezes até esqueço que sou grego, de tão brasileiro que me sinto. O Brasil sim é que é uma escola mundial no futebol!”

Thrassyvolos é corinthiano, entusiasta da seleção e da nação brasileiras, e fã de Dunga: “É a pessoa ideal para comandar, tá certo? Tem talento, coragem, já mostrou que tem muita capacidade.”

Sobre o rival no jogo de hoje, Jorge confidencia: “Sabe, esta foi a única colônia que passou pelo Bom Retiro e tomou conta. São trabalhadores, pessoas boas, uma maravilha! Não fosse por eles, este bairro teria ficado mal.”

A conversa muda para as lembranças da Grécia, o pai pescador e frutos do mar frescos, que Jorge reconhece “só de ver passar”, até voltar para o futebol. Então, ele lembra de Pelé, quem viu jogar no Maracanã em 1970, e demonstra entusiasmo com a Copa de 2014, mas confessa esperar mais de sua terra de adoção. “Antes de morrer, quero ver este país uma potência”, afirma, com otimismo de fazer inveja a qualquer brasileiro nato.

E, em menos de meia hora de bate-papo, seu restaurante já está cheio de clientes, como de costume.

Gregos, judeus e coreanos são as principais comunidades que tomaram o Bom Retiro como ponto inicial na cidade de São Paulo e se concentraram na confecção e no comércio de roupas.

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