03/06/2010 - 04h57

Zimbábue vibra com Kaká e expõe fragilidades em dia de festa com o Brasil

Alexandre Sinato e Bruno Freitas
Em Harare (Zimbábue)

A capital Harare teve uma quarta-feira especial com a presença do Brasil. O amistoso entre seleção local e pentacampeões virou quase um feriado. Kaká foi o grande astro do dia. No entanto, a festa armada na vitória por 3 a 0 do time de Dunga não escondeu totalmente os problemas do povo zimbabuano. Falta de segurança, pobreza e tensão política ficaram fora das quatro linhas, mas estavam presentes no estádio Nacional.

A cerca de três horas do início do jogo (marcado para as 15h30 locais), o movimento ainda era pequeno no estádio. Os torcedores chegavam aos poucos. Mas nem todos em segurança. Um belga foi assaltado próximo das grades giratórias que davam acesso ao palco do amistoso.

“Quando ele foi pegar o ingresso no bolso, um garoto roubou sua carteira e saiu correndo. Ele ainda sentiu que estavam levando a carteira, mas uma pequena confusão se formou e não deu para identificar quem era”, relatou Viviane Costa, brasileira que entrou no estádio imediatamente antes do europeu e presenciou a cena. Em seguida, alertou seus amigos.

DITADOR MUGABE DIZ QUE JOGO É HONRA

  • AP e UOL

    A Folha de S.Paulo conversou com o ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, considerado um pária na Europa e nos EUA, que revela ter encontrado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no mês passado. Confira as algumas perguntas:

    O sr. gostou do desempenho do seu time?
    Robert Mugabe - Sim, claro! Nós demos a eles [Brasil] bastante trabalho.

    Qual a sensação de ter hospedado o Brasil no Zimbábue?
    É um grande evento para nós. O Brasil, como você sabe, é um bom time, o melhor time do mundo, provavelmente. Nos deram uma honra. Estamos muito felizes.

    Como estão as relações entre Brasil e Zimbábue hoje?
    Temos boas relações. Temos relações diplomáticas, dividimos ideias, temos um bom comércio... 

Policiais também avisavam jornalistas para que tivessem cuidado do lado de fora do portão. A recomendação era para que ninguém saísse. “É melhor ficar aqui dentro, é mais seguro.”

A desigualdade social no Zimbábue atinge patamar elevado. Quase 70% da população vive abaixo da linha da pobreza. A renda média de um chefe de família é de US$ 100 mensais. O valor varia de acordo com a profissão (o salário de um professor do ensino privado pode chegar a US$ 400), mas dificilmente supera os US$ 200 mensais.

Para assistir à vitória do Brasil por 3 a 0, o torcedor zimbabuano precisou pagar US$ 10. Com esse dinheiro, poderia fazer, por exemplo, três refeições (média de US$ 2 cada) e ainda usar as vans do transporte público oito vezes (cada passagem custa US$ 0,50). Seis ingressos pagariam o aluguel mensal de um quarto mobiliado e banheiro.

Mesmo assim, a paixão pelo futebol e a admiração pelos Samba Boys (apelido da seleção) quase encheram o estádio com capacidade para 60 mil pessoas, gerando uma bilheteria superior a meio milhão de dólares. Jogar no Zimbábue rendeu à seleção brasileira quase US$ 2 milhões.

Mas quem foi ao estádio não se preocupou tanto com dinheiro. A presença da seleção brasileira deixou os torcedores em êxtase. “Ver Kaká e Robinho de perto é algo que nunca sonhei. Não poderia perder essa chance por nada”, resumiu Kennedy Miasora.

Kaká, inclusive, levou o estádio à loucura. Sempre que seu rosto aparecia no telão, gritos surgiam da arquibancada. O camisa 10 causou mais barulho que o presidente Robert Mugabe, no poder desde 1980 e acusado de violar as eleições e recorrer à violência extrema contra oposicionistas.

Mugabe fez questão de ir ao estádio. Protegido por homens fortemente armados, entrou depois dos jogadores carregando uma bandeira do Zimbábue. Ouviu os dois hinos, cumprimentou as equipes e saiu saudando o público, com a bandeira tremulando e o sorriso no rosto.

A figura do presidente está em todas as partes. No aeroporto, nos hotéis e em restaurantes é fácil encontrar uma grande foto de Mugabe. Mas falar do seu longo período à frente do governo é um tabu. Com medo, os zimbabuanos fogem do tema política. “Está tudo ótimo, tranquilo. Tudo em paz. Vamos falar de futebol”, afirmou Ruto Chirata.

Brasileiros que vivem no Zimbábue também se esquivam do tema política. Principalmente no dia em que o país africano ganha espaço na mídia internacional por um motivo que não seja decorrente da tensão política. No dia em que Kaká “ofuscou” a temida figura do presidente, os Samba Boys reinam para a população zimbabuana.
 

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