Por Alexandre Sinato, Bruno Freitas e Mauricio Stycer
Em Johanesburgo (África do Sul)
Perto de completar quatro anos à frente da seleção brasileira - assumiu em julho de 2006, depois do fracasso verde-amarelo na Alemanha - Carlos Caetano Bledorn Verri, mais conhecido como Dunga, começa nesta terça-feira a viver os 30 dias mais importantes de sua curta carreira como técnico. Dependendo do resultado do Brasil na Copa, as ideias que defendeu no período poderão ganhar ares de ciência ou serão logo esquecidas. Abaixo, uma súmula do "dunguismo", a polêmica filosofia de trabalho que entra em campo nesta terça junto com a seleção.
É a palavra-chave do "dunguismo". Partindo do pressuposto que a geração que fracassou em 2006 já não tinha a seleção como prioridade de vida, Dunga resolveu cercar-se exclusivamente de jogadores que enxergam na camisa amarela o sonho de uma vida ou uma oportunidade única na carreira. Não à toa, dos 23 jogadores na África, 14 disputam uma Copa pela primeira vez. Comprometimento, para Dunga, é entender - ou, pelo menos, manifestar publicamente - que a seleção brasileira é mais importante do que tudo.
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Nada mais "dunguista" do que a convocação de Doni, porque o goleiro peitou a Roma para atender uma convocação do técnico da seleçao e, em conseqüência, foi boicotado em seu clube.
"Como eu ia ficar se não o convocasse? Qual mensagem eu ia passar para os outros jogadores?", justificou o técnico. É preciso ser homem, ter palavra, ser corajoso - estas são as virtudes do "homo dunguiens".
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O dunguismo se caracteriza pela repetição de algumas frases feitas, que realçam o esforço individual, a capacidade de superação de dificuldades na vida e, mais recentemente, o patriotismo. São ideias mais bem compreendias e aceitas por jogadores com perfil humilde ou devotos de alguma religião. Quem ouve dez jogadores da seleção falar em sequência impressiona-se com a uniformidade do discurso e a repetição de ideias. O comandante conseguiu convencer seus comandados que eles formam um "grupo" e que este grupo precisa agir de forma "unida" para conquistar o seu "objetivo".
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Para impor um regime repleto de restrições, e alcançar coesão, Dunga precisou, primeiro, convencer seus comandados que eles enfrentavam um perigo lá fora. A imprensa foi a vilã que se adaptou com mais facilidade ao papel. Inteligente, ofereceu em troca aos jornalistas o fim dos privilégios sempre concedidos a um parceiro de peso. Ao "democratizar" a falta de acesso à seleção, Dunga atraiu muita gente para o seu lado, tanto entre profissionais da mídia quanto no público em geral, que alimenta algum tipo de ressentimento contra jornalistas.
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Como jogador, Dunga levou ao extremo as qualidades atribuídas ao futebol gaúcho: marcação forte, garra, solidariedade, determinação e alguma violência. Como técnico, tem se dedicado ao esforço de fazer a sua seleção jogar com estas características: defesa sólida, protegida por dois volantes firmes, a la Dunga, dois meias capazes de ligar o contra-ataque e dois atacantes. Não é um time defensivo, mas não se parece nem um pouco com o que, orgulhosamente, se convencionou louvar no Brasil: o chamado futebol-arte.
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